quarta-feira, 3 de março de 2010

País

Verde
O verde da desesperança
E dos recibos preocupantes, revoltantes
Na mão da maioria dos portugueses
Vermelho
O vermelho do sangue da injustiça
E da falsidade movida por cobiça
Esfera armilar
Fragmentada
Esgarçou-se o tecido da bandeira!
Que país amarelo é este, sem eira nem beira?

sábado, 23 de janeiro de 2010

Oscilantemente movente
Ou moventemente oscilante?
Salientemente original
Ou originalmente saliente?
Seguramente insegura
Ou insegura seguramente?
Racionalmente louca
Ou loucamente racional ?
Pensativamente pensante
Ou pensativa pensantemente?
Amorosamente odiada
Ou odiosamente amada?
Fervorosamente calma
Ou calma fervorosamente?
Veementemente disciplinada
Ou disciplinadamente veemente?
Conscientemente inconsciente?
Ou consciente inconscientemente?
Suficientemente vivida
Ou vivida insuficientemente?

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sou uma semente
Por plantar e germinar
Sou uma casa
Por acabar e mobilar
Sou um diamante em bruto
Por lapidar
Sou um espírito fervilhante
Por disciplinar!

sábado, 16 de janeiro de 2010

Escondi uma vida físico-química debaixo da tua pele
Uma vida que não é vida
Uma vida perecível
A tua alma perdida,
Numa circularidade de marasmos
Dos dias, dos meses, e dos anos
Achava-se no meu corpo que não era mais que
A tua bússola
O teu mapa
O teu GPS
Dos caminhos do prazer.
O inventor da calçada portuguesa só podia ser sexista; não há condições para uma mulher de saltos altos caminhar sobre ela.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Neste mundo, nesta vida
Não quero conhecer apenas uma flor
Quero conhecer uma floreira;
Não quero conhecer apenas um peixe
Quero conhecer um cardume
Não quero conhecer apenas uma árvore
Quero conhecer uma floresta;
Não quero partir apenas um prato;
Quero partir a loiça toda
Não quero apenas existir
Quero viver.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A estrada do viver

Dia a dia
Asfaltamos
A estrada
Do viver

Por vezes
Deparamo-nos
Com curvas
À espera
De nos surpreender

E vemo-nos obrigados
A efectuar
Desvios e manobras
Que nunca pensàmos concretizar

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A minha aparição
É tudo o que me ilumina
Que me preenche e unifica
Não se trata duma só coisa
Não se trata duma só pessoa
Tratam-se de muitas coisas
Tratam-se de muitas pessoas
Com sentido
Como uma constelação
Na noite cerrada
Como um conjunto de velas
Ardendo na escuridão
Duma qualquer divisão
É assim a extensão
O preenchimento
A extensa iluminação
A extensa unificação
Da minha aparição.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Por volta dos anos 30, Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) escreveu no seu poema ''Tabacaria'': "(...) não há mais metafísica no mundo senão chocolates!"...

- Vamos dividir um Kinder Bueno?- perguntaste-me com o teu olhar e o teu sorriso inesquecivelmente marcantes.

- Sim, precisamos de metafísica- respondi com solene certeza.

Não se tratou apenas da divisão dum chocolate. Tratou-se da divisão de alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas, de essências de seres, como uma verdadeira amizade tanto requer.

Para a Bé =)))